Visto de estudos para Brasileiros na Itália

Ainda antes de me tornar oficialmente italiano, em 2017, acabei precisando de um visto para poder passar mais um tempo na Itália. Tenho que admitir que foi um processo um pouco mais complicado do que eu imaginava, mas no final deu tudo certo e aprendi um bocado de coisas sobre isso tudo. Portanto vale dizer que o que descrevo aqui é baseado no meu caso e como também já fazem alguns anos algumas coisas podem ter mudado. De qualquer forma, se você está tão perdido quanto eu estava nesse momento, tenho certeza que essas informações vão ser bem úteis.

Ah sim! Também vale dizer que nós decidimos fazer isso tudo sozinhos, então sempre tem a opção de você contratar uma empresa para te ajudar com essa parte burocrática.

Por onde tudo começa?

Se for para ir do início mesmo, a primeira coisa importante é você entender melhor as regras do tratado de Schengen, por isso fiz esse outro post aqui antes desse.

Como comentei no post acima, a Itália é um dos países integrates do “espaço Schengen”, e por isso a regra aplicada para Brasileiros em relação à Itália diz que não é necessário ter um visto consular (aqueles que você solicita no consulado) para passar até 90 dias como turista aqui, a cada 180 dias.

Isso foi bem importante de compreender no meu caso. Eu cheguei na Itália e passei 3 meses em Roma. Nesse meio tempo encontrei o documento que faltava para a minha cidadania (no caso a certidão do meu bisavô), porem eu não podia ficar mais, sem antes passar ao menos 3 meses fora do “espaço Schengen”. Então foi assim que começou essa jornada.

Você não consegue um visto dentro da Italia

Eu não sou nenhum especialista, mas nessa época, antes de encerrar o terceiro mês, chegamos a ir em mais de uma delegacia e também no departamento de imigração de Roma. Então consigo te dizer com certeza:

Você precisa pedir este visto “fora” da Itália.

Uma pergunta que você pode estar se fazendo também:

Mas e se eu for para outro país vizinho e pedir o visto lá?

Foi exatamente isso que eu pensei de cara. Dou um pulo alí na França, ou até em Portugal (que não é tão vizinho mas é barato de ficar, e bom, Ryanair tá aí para isso), passo uns dias curtindo a cidade e volto de boa!

Bom, essa solução tem dois problemas:

  1. Segundo me disseram, os consulados em geral, são destinados para o atendimento de residentes, então me não podiam garantir se o Consulado da Itália, em Lisboa, por exemplo, toparia me atender para fazer meu visto, tendo em mente que eu não era italiano e nem português e mais importante não era residente em Portugal. E é claro que isso valeria para qualquer país que não o Brasil.
  2. Por conta justamente do “espaço Schengen”, não adiantaria nada ir para nenhum dos países que dei como exemplo, pois eu também não poderia ficar neles, por já ter passado três meses na Itália. E mesmo que eu tivesse tempo, e eles me dessem o visto, eu só passaria na imigração se saísse do Schengen, certo? Logo eu teria que escolher um país não membro do espaço: basicamente o Reino Unido, Irlanda ou Norte da Africa e Leste Europeu, onde o problema 1 ainda persistiria.

Só tinha uma forma viável mesmo: me inscrever em um curso, voltar para o Brasil, pedir o visto e finalmente voltar para a Itália.

Quem precisa e quem pode pedir esse visto

Para nós brasileiros, o visto de estudos só é aplicável para cursos com duração maior do que 3 meses, caso contrário eles não emitem o visto e te dizem pra você usar os 90 dias padrão (mesmo que você tenha que esperar um tempo para isso).

Eu mesmo acabei me inscrevendo em um curso de Italiano que eu poderia fazer por até 6 meses, na UPTER (uma Universidade Popular que tem preços bons e muitos cursos diferentes: de padeiro a poesia).

Juntando os documento e iniciando o pedido

A lista de documentos não é muito longa na verdade, e nesse site aqui do próprio governo italiano você pode ver direitinho a lista (inclusive para outros tipos de visto). Vou passar um a um explicando:

Esse é até que bem simples. Eu te aconselho a imprimir mais de uma cópia, para ter uma segunda chance caso erre alguma coisa, e depois é só preencher com os seu dados.

  • 2. Fotografia recente em formato “tessera”

Esse é o formato padrão de fotos para documentos na Itália. O tamanho é 40x35mm e tem uma regra um pouco específica sobre o posicionamento do rosto na foto. No meu caso eu fiz a minha em uma maquina de rua aqui mesmo antes de voltar ao Brasil, então não tive problemas, mas sei que nos consulados em geral tem uma maquina desses dentro (até para ser possível você conseguir uma foto tão específica e tal), então meu conselho é que você vá lá antes do seu agendamento e faça a sua.

  • 3. Passaporte com validade de pelo menos 3 meses além do visto solicitado

Isso é uma coisa para tomar cuidado, principalmente se você for pedir um visto mais longo. Vou dar um exemplo: vamos supor que agora em fevereiro de 2019 você vai solicitar um visto de nove meses começando em março até novembro, seu passaporte precisa ter validade pelo menos até fevereiro do ano que vem. Caso contrario precisa renovar o passaporte antes de pedir o visto.

  • 4. Demonstrativo de alojamento garantido na Itália: reserva de hospedagem ou “dichiarazione di ospitalità”

Se você for ficar em um hotel, hostel ou qualquer coisa do tipo, basta levar o comprovante de reserva mesmo. Se este inclusive for seu caso te aconselho a dar uma olhada no Uniplaces, que é um site voltado a aluguel para estudantes, então é bem provável que seja mais fácil para você conseguir esse documento.

Caso você vá ficar hospedado na casa de alguém, essa pessoa precisa te mandar a “dichiarazione di ospitalità”, que é basicamente um documento onde ela declara “formalmente” que vai te receber.

No meu caso eu tinha uma declaração referente ao aluguel de um quarto onde já tínhamos morado nos 3 primeiros meses, então foi até que fácil.

  • 5. Demonstrativo de meios de sustento relativo ao período do visto;

Como toda burocracia é pouca, você ainda precisa demonstrar que tem dinheiro para fazer esse curso. Então caso você tenha recebido alguma bolsa, por exemplo, acredito que seja a hora de mostrar. No meu caso eu mostrei o limite do meu cartão de crédito e para eles era suficiente. O importante aqui é que existe uma tabela (essa) que determina quanto de dinheiro você tem que comprovar de acordo com o tempo do visto.

  • 6. Seguro de viagem

É o mesmo seguro de viagem padrão do espaço Schengen que eu expliquei no outro post (€ 30k +) porém tem que ter validade para todo o período da viagem. No meu caso eu me arrisquei e já contratei o seguro antes mesmo de ter o visto, o que foi uma vantagem porque eu não precisei voltar lá depois para eles carimbarem o papel do seguro. Mas o próprio atendente do consulado falou para mim que uma cotação já era o suficiente, e depois se o visto fosse emitido eu só precisava contratar e levar lá o papel. (aqui nesse link tem vários seguros com ótimos preços inclusive #fikadika)

  • 7. Inscrição ou pré-inscrição no curso a ser feito na Itália

Por último o documento comprovando sua inscrição ou pre-inscrição no curso. No meu caso era uma carta assinada e carimbada pela escola, com meus dados, os dados do curso e o período certinho de início e término das aulas.

Hora de ir ao consulado

Desculpa mas ainda não acabou, e para dizer a verdade, aqui começa o que foi a pior parte para mim. Espero que eu tenha tido azar de pegar alguém muito azedo e que não seja sempre assim, mas digo com tranquilidade: eu nunca fui tão mal atendido na minha vida. Pode ser que você precise de bastante paciência.

Não falo isso para assustar, e nem é uma questão de incompetência dos funcionários também. A questão é que a pessoa que faz esse processo (ou fazia), no consulado de São Paulo, era extremamente grossa. Ao ponto de me perguntar entre outras grosserias, com todas as palavras: “Você é burro? Porque você só pode ser burro para me perguntar isso”. No caso quando perguntei como deveria preencher na parte de “Contatos profissionais” em que pedia uma referência, tendo em vista que sou autônomo. Conversando com as outras pessoas na espera da minha vez, todos tinham reclamações do tipo, e o que eu percebi é que a pessoa fazia isso de propósito, e dificultava mais o processo de quem respondia para ele (tinha uma garota que estava voltando lá pela 5ª vez, porque toda vez ele pedia um documento a mais). Pensando nisso tudo eu engoli seco e no final deu tudo certo.

Então, tenha paciência. Desabafo a parte, vamos seguir.

Nesse mesmo site onde tem a lista de documentos, tem também a lista de consulados que prestam esse serviço, e a coisa a fazer depois de juntar os documentos é fazer um agendamento de horário aqui nesse link.

Chegando no consulado com toda essa papelada você vai ser finalmente atendido e terá que pagar uma taxa no valor de 50 Euros. Parece que cada consulado lida de uma forma, no meu caso eu tive que pagar em Real, o valor equivalente, e paguei no débito, no crédito não era possível e em dinheiro eu teria que ir em algum lugar para pagar e voltar depois.

Conclusão

Apesar das grosserias eu entreguei os documentos, inclusive meu passaporte, e me disseram para voltar em uma semana para pegar todos os documentos.

Visto colado no passaporte

Esse é o visto emitido e a recomendação é que você faça a viagem com todos os documentos que o consulado vai te devolver. Depois disso tudo certo, basta lembrar de se apresentar na “Questura” mais próxima de onde você estiver no “Ufficio Immigrazione” assim que chegar na Itália, assim eles dão prosseguimento com seu pedido de “Permesso di soggiorno”, mas isso é papo para outro post.

Se você chegou até aqui, dá um salve nos comentários para eu acreditar, haha

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